quinta-feira, 31 de maio de 2012

Bom é bem perto

Ouço as pessoas falarem desse papo de amor à distância, de esperar ficar mais velho, de dar um tempo.

Eu fico quieta, mesmo já tendo enfrentado isso algumas vezes. Esse papo de saudade é bom. Não é nada. A verdade é que quando a gente descobre que aquela pessoa é o homem da sua vida, não queremos passar nem mais um segundo longe. O único amor à distância que tolero são alguns centímetros de distância na hora de dormir

domingo, 25 de dezembro de 2011

I found you

O Natal é supostamente uma data em que queremos ficar perto da família. Mas desde que te conheci isso não é o suficiente, quero você também.

Longe há quatro dias de você, sinto uma saudade de distâncias relativas à velocidade da luz, isso é o que parece o Rio de Janeiro. Sempre foi assim, mas é pior a cada dia mais.

Pode parecer brega, mas o maior presente quem me deu neste ano foi você. A vida mudou desde que você mudou pra cá. Eu mudei e comecei enxergar a vida de uma outra forma. Me sinto mais leve, mais segura, mais madura. Quase outra pessoa.

Eu sei que pra você não deve ter sito fácil conviver comigo em muitos momentos. Vejo hoje como eu posso ser chata e ao mesmo como é bom quando consigo ser fácil.

Eu vivia acostumdada com o drama e você me mostrou a alegria que é possível viver a vida.

Você me mostrou como melhorar da maneira mais doce e paciente possível.

Acordo todo dia ao seu lado sentindo uma felicdade que nunca senti antes. Me sinto completa. Talvez isso soe óbvio pra você, mas eu demorei muito tempo pra chegar até aqui.

Além do amor, que já é raro, existe também toda uma outra sintonia. Você entende meu humor e eu entendo o seu. Gosto de fazer o que você faz e vice-e-versa. Gosto da sua cidade e você, mais ou menos, também vice-e-versa.

Eu admiro seu talento e inteligência e é muito bom ver você realizado e eu sei que você também sente isso de mim. Você está sempre me apoiando e eu só tenho a agradecer.

Me parecia impossível encontrar no amor tantas coisas que fizessem tanto sentido.

Mas eis que encontrei você.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Transição

No começo da adolescência eu costumava achar que aos 25 anos eu me casaria. A conta era simples na minha cabeça racional: se minha mãe se casou aos 22, era só dar o desconto da modernidade dos tempos. Só que aos 25 percebi que as contas do lado racional não é suficiente na hora de tomar decisões e muito menos para ter poder sobre meu destino. Se antes os 25 eram a idade para ter filhos, hoje me parece a idade da fase de transição da adolescência para a fase adulta. Pelo menos pra mim. Não me identifico mais com o meu passado. Mas é muito difícil entender que a adolescência ficou para trás. Dá saudade. Ao mesmo tempo, o futuro me assusta com sua necessidade de colocar cada vez mais peso nas minhas decisões. E é claro que eu me volto para o passado em busca de alguma experiência me ajude nas respostas. Mas nada se encaixa, quero novas respostas, novos desafios e quero distância das minhas lembranças. Elas me dão um vazio, não me completam, me enchem a paciência. Gostaria de esquecê-las. Essa fase de transição é dureza. Me disseram que eu iria me sentir velha, mas me sinto cada vez mais nova, uma jovenzinha reclamando sobre coisas que eu sei que são besteiras para quem já passou por isso. Acho tudo uma mistura de coisas pesadas demais e levianas demais. É como se eu conseguisse me enxergar aos 80 anos, rindo de mim mesma hoje. Só que não tem como se livrar desses questionamentos. Vejo as pessoas tão decididas, com rumos tão certos, mas eu só consigo me arrumar mais perguntas. Ou então vejo alguns que se perderam na eterna adolescência, como se a vida fosse um eterno intervalo entre o carnaval e o natal. Isso me enoja. Tenho achado difícil viver essa fase de transição. É tudo tão enevoado, fica difícil saber onde vou pousar, onde quero aterrissar. O lado bom de viver uma transição é que, como a palavra sugere, ela é temporária, só não sei quanto vai durar esse tempo.

sábado, 1 de outubro de 2011

Patins

Se nada der certo, já sei qual vai ser o meu próximo emprego: vou me tornar patinado do Carrefour. Foi em um dia em que me sentia aprisionada dentro de mim que descobri os patins. Ao vestir aquelas botas pesadas, não imaginava que aquelas rodinhas enfileiradas podiam me dar tanta liberdade. Comecei a deslizar pelo chão macio da quadra e meu jeito atrapalhado desapareceu. Logo ganhei a confiança para girar, brincar e até andar de costas. Ao subir naqueles patins me sinto leve, quase flutando sobre o chão, feliz com a deliciosa adrenalina que me dá frios na barriga quando arrisco uma nova manobra. Me sinto livre de mim mesma e das minhas autocríticas. Acho que estou apaixonada.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Exigente

Qual é a diferença entre quem você e aquela pessoa que você gostaria de ser?
O resultado desta equação, em alguns casos, pode deixar uma pessoa louca.
Descobri tudo o que passa pela minha cabeça durante o dia são cobranças e eu não consigo me deixar em paz.
Encolha a barriga, arrume a postura, acorde mais cedo, durma mais cedo. Ou aprenda a dormir menos.
Leia mais, leia mais o jornal, seja mais informada. Seja mais rápida, cometa menos erros.
Coma menos doces, se alimente melhor, faça exercícios. Vá para praia, aproveite os amigos, aproveite a família.
Seja menos chata com seu namorado, seja menos bagunceira, seja menos impaciente e mais flexível.
Faça cursos, aprenda outras línguas, volta a tricotar, veja mais televisão. Faça as unhas, mude o cabelo.
Que inferno! A verdade é que minhas exigências estão fazendo da minha vida um inferno.
Acabo ficando cada vez mais ansiosa, com mais dores nas costas e cada vez menos feliz.
Preciso aprender a levar a vida mais numa boa.
Mas pelo jeito, desejar isso é fazer mais uma exigência em relação à mim.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Bandeirantes

Acordei com vontade de sair dirigindo por aí, sem destino certo, sem data de volta, atrás de novas paisagens e do verão.
Toda vez que estou na avenida Bandeirantes e o sol aparece fico no clima de ser irresponsável.
Vem o retorno para 23 de Maio e, mesmo que num milésimo de segundo, penso duas vezes antes de dar a seta ir ir para o centro.
Não tem uma vez que não passe pela minha cabeça a ideia de seguir reto e ir pra praia, qualquer praia, fazer uma loucura, partir para uma viagem de meses, anos, mesmo sem mala nenhuma.
Faço a curva acentuada do retorno em alta velocidade, ainda no clima da minha aventura que acabei de deixar para trás, apenas pra ter meus sonhos atropelados pelo engarrafamento da 23 de Maio.
Quem sabe amanhã eu crie coragem para seguir em frente na avenida Bandeirantes.

Zumbi

Desde que fiquei gripada parece que perdi toda minha autonomia e meu corpo é controlado por alguma outra força.
Não sei quem inventou que o mito dos zumbis foi inspirado em um feitiço do Haiti -- eu tenho quase certeza que foi inspirado em alguém gripado.
Os sinais do comportamento zumbi são claros: perdi minha audição, meu senso de humor, ganhei olheiras e de tão pálida, minha pele está quase verde.
Sem contar que perdi a vontade de trabalhar e zumbis também não trabalham. Ou trabalham?
Também me identifico com os zumbis-filósofos e questiono minha existência, tentando descobrir se estou mais para morta-viva ou viva-morta.
Existe também o problema da moleza e sonolência, claro, que agravam o constante estado atrapalhado e me faz tropeçar e derrubar as coisas com mais freqüência.
Estava atrasada, mas resolvi sentar para tomar café da manhã como se estivesse com tempo.
De manhã, naquele estágio em que ainda não estamos acordados mas já temos alguma consciência, tive a certeza de que era sábado. Mas o toque do despertador mostrou que eu havia me enganado e ainda era quarta-feira.
Por isso, o café da manhã sem pressa era como que uma afronta por ter que trabalhar no sábado. A verdade é que nem que eu quisesse ser rápida eu conseguiria.
Às vezes, sem estar gripada, acordo 7h30 exatamente para fazer o processo de acordar tranquilo. Porém, quando vejo, já são 9h40 e eu já estou atrasada, com as coisas todas espalhadas pela casa. Sempre esqueço alguma coisa e só percebo quando já desci do elevador – então tenho que subir de novo e buscar. É irritante.
Eu podia fazer uma comparação da lerdeza do meu cérebro com a de um zumbi, mas ele está lerdo demais para isto e me lembra mais aquele círculo com as cores do arco-íris que gira no Mac quando o computador demora para processar um informação.
Aquela giradinha do círculo é algo desesperador. Nunca sabemos quando ele vai parar, se algo realmente está sendo resolvido ou se o computador vai travar para sempre. O pior é que quando aquela rodinha maldita aparece, não podemos fazer nada além de esperar, como uma ligação para alguma central de atendimento.
Acho que outro problema da gripe, claramente apresentado aqui, é a dificuldade de concentração e a grande facilidade de criar uma linha de raciocínio maluca, que nos leva do café-da-manhã, a zumbis, a computadores e a centrais de atendimento.
Por falar em zumbis, será que eles também ficam gripados? Ou o fato de eles estarem meio mortos ou deixa imune a vírus? Talvez eles sofram com o problema de insetos que queiram comer sua carne.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vovô

Ao me ver ele abriu um sorriso e com os olhos fez como que fosse me contar várias novidades. Ao invés disso, ouvi: "Eu não quero morrer. Quando eu vejo você".
Aquelas palavras foram com certeza a maior declaração de amor que alguém já me fez e eu tive que engolir o choro de felicidade e tristeza que queriam ser liberados.
Tudo o que eu queria naquele momento era voltar ao passado e ser menina de novo.
Ter todas aquelas tardes em que o tempo ainda não obedecia o relógio.
Quando eu era menina meu melhor amigo era o meu avô. Lembro que gostávamos de passear de carro e ele levava à sério minhas sugestões de passeio.
Uma vez cismei que queria ir na casa do Charlie Brown. Mesmo sabendo que o desenho não existia na vida real, ele se deixou levar pelas minhas direções até chegarmos em uma casa com o grafiti do amigo do snoopy.
Tínhamos várias tardes de brincadeiras no quintal, doces não só pelas guloseimas feitas pela minha avó.
Sem falar nas histórias de animais na floresta que meu avô contava, imitando o barulho de um coelho comento cenoura.
Há quanto tempo não ouvia meu avô falar sem parar? De uns anos para cá ele falava de maneira tímida, com medo de errar as palavras.
Mas quem olha bem de perto entende todas as histórias do passado que ele conta para gente com apenas um olhar.
Naquela noite, tudo o que eu queria ao ouvir aquela frase era viver tudo isso de novo.
Queria me dar um soco por aquela fase da adolscência em que não queremos saber de nada além de nós mesmos.
Mas nada disso ia adiantar.
Vô, te amo. E também não quero que você morra pois, mesmo com pouca conversa, você continua sendo meu melhor amigo.