segunda-feira, 6 de abril de 2009

Egito

O grupinho de cinco meninos chegou à praça sem deixar transparecer que a missão, naquele recreio, era megalomaníaca. Sem se importar com o clubinho, o balanço e as meninas, eles se sentaram na areia e tiraram do bolso alguns bonequinhos. Logo, um dos garotos levanta, aponta para o chão e declara: - Vamos cavar aqui o rio Nilo!
Ao fundo, uma menina se balançava no pneu, com a ajuda de uma amiga, sem se influenciar pela quantidade de meninos que se aglomerava ao redor dos montes de areia.
“Vai buscar água!” Pede um menino a outro. E então, surgem tigelas de água que começam a ser derrubadas no futuro rio.
Mas o futuro daquele monte de areia só é revelado mais tarde quando, curiosa pela balbúrdia, uma professora que passa pergunta aos meninos o que eles estavam fazendo e como resposta, ouve em tom de superioridade: “O Egito!”
As meninas não tiveram a mesma sorte, e quando perguntam o que eles, os meninos, estavam fazendo, a resposta vem blasé: “Não te interessa! Vocês não podem brincar com a gente.”
Enquanto alguns continuam a se encarregar de trazer bacias cheias d’água, dois garotos discutem:
-Isso é a pirâmide.
-Não, é uma montanha! Não vai ter pirâmide.
-Mas tem que ter pirâmide!
Ao fundo, o inspetor começa a ser saudado como um faraó, depois de ter cavado buracos mais fundos: “Viva o Zequinha! Viva o Zequinha!”, repetiam todos em coro.
Com mais de vinte meninos envolvidos no projeto, as direções logo começaram a divergir, e enquanto alguns alegavam que iria ser “Um tipo de Egito com índios”, um outro garoto, ao fundo, incitava os colegas: “Vamos, gente! É a única piscina da escola!”
O intervalo se aproximava do fim e a esse ponto, dentro de cada meia, de cada pé, já existia uma pequena praia particular. Via na expressão de cada um, o apego à grande obra, que em breve não seria mais deles, e sim dos mais novos, que já olhavam com avidez os montes de areia.
O Egito logo ficou vazio, a água secou e os índios em miniatura foram embora. Mas para aqueles que chegavam nada disso importava – e a diversão continuou.

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