terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ninguém na janela

Ao comprar casas e apartamentos, as pessoas adoram levar em conta o tamanho das janelas e a existência de varandas. Eu gosto muito das duas. Em dias de sol, levo o lap top até a varanda e faço de lá meu escritório. Quando chove, vejo a chuva cair da minha janela. Gosto de ver a rua, e quem passa, os carros e ônibus, e as outras janelas. Uma época passava um menino de skate, aos sábados passa um carro que vende cândida.
Nem me arrisco a contar quantas eu vejo da minha janela. São muitas. Porém, elas estão sempre vazias. Às vezes alguém atravessa um corredor sem ver, de manhã empregadas arrumam a casa, mas são poucas as pessoas que realmente aproveitam o potencial das varandas e das janelas. O que houve com aquele espaço que as pessoas tanto desejam? Elas ficam ali, como se sua única função fosse dar aos moradores a segurança de que aquela vida de sentar na varanda e tomar um vinho existe, e eles podem pegá-la a qualquer momento. Mas elas continuam vazias e sem vida.
O que aconteceu com a curiosidade humana pela vida? Onde estão os voyeurs que inspiraram "A janela indiscreta?" E as moças que ficavam à espera dos pretendentes? Dizem que os olhos são a janela da alma. Pois é, mas ninguém mais usa janelas.
Hoje de manhã uma japonesa se instalou numa mesinha e ficou ali, horas a ler em sua varanda. Às vezes ela olhava pra baixo, depois voltava para os livros. Espero que ela volte.
Imagem: Salvador Dalí, Muchacha en la Ventana, 1925.

4 comentários:

Loja Casinha Feliz disse...

Isto me fêz lembrar da minha infância, quando, no final de tarde, ficávamos, eu e minha mãe, na janela de casa, olhando o movimento de carros e pessoas, comentando e trocando idéias! Também sinto falta das pessoas nas janelas! Adorei o texto...

Anônimo disse...

Já falei que adoro e compartilho muito da sua forma de ver o mundo? Janelas são o mundo. Faço questão de deixar a escrivaninha perto da janela, não só para aproveitar a luz natural, mas para poder ver um pouco da vida lá fora.

Queria muito ter uma varanda e fazer como você!

Beijão, flor! Amei o texto! =D

nathalia.z disse...

Nasci e vivi 18 anos da vida em frente a praia (literalmente). Uma janela enorme, sempre aberta para a brisa do mar, era lugar de descanso e reflexão. O parapeito dela conhece o gosto de muitas lágrimas minhas. E na cortina embaixo dela, balançando as ideias, dormi olhando para o vai e vem onze andares abaixo. Janelas alimentam e dão frescor à alma da gente. Beijo enorme, má!

Anônimo disse...

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