sábado, 23 de janeiro de 2010

A censura

Em inglês, a expressão "o elefante na sala" designa aquele momento em que existe um assunto no ar, mas ninguém toca no assunto, e de forma quase desajeitada, todo mundo desvia daquele grande incômodo. Já faz alguns meses que pela minha cabeça passa quase uma manada. Logo meus pensamentos se materializam e eu começo a sentir o gosto das palavras. Mas eu me calo.
Para aqueles que logo ligam sentimentos à palavras e ainda por cima são espontâneos, ficar quieto é tão ruim quanto segurar um espirro.
Ultimamente venho sofrendo de auto-censura. Os textos fluem na minha cabeça, mas na hora de escrever, eu olho para o lado. Não é uma questão de insegurança, enxergo tudo redondinho na cabeça. Muito menos uma crise.
De uns tempos pra cá, a sensação de ser inteiramente legível me incomoda. Em cada palavra, lá estou eu, como embaixo de um raio-x. Na tentativa de definir aquilo que eu sinto, descobri que sentia a necessidade do silêncio e da privacidade.
Mas lá estão elas, a cada esquina, as palavras surgem como vendedores ambulantes. Eu fecho a janela, e espero que o farol abra. Fecho a boca, e sinto aquela mesma vontade a espirrar e não conseguir. Mas logo passa uma poeira, e o ar muda. Sinto falta de organizar as letras, uma ao lado da outra, de ver as linhas surgirem e se apagarem. Não quero mais guardar palavras.

Um comentário:

Play Blackjack disse...

What interesting idea..