Os Feios

Em plenos 15 anos, numa sala de aula comum, ouvi em um tom surpreso, meio irritado, de um menino: "Você pensa demais!". Neste mesmo ambiente suspeito, talvez do mesmo menino com boa estética, ouvi uma conversa sobre as meninas belas, e em uma qualquer ouvi "ah não, ela ri muito". Não imaginei que isso fosse quase um senso comum, mas é verdade. Já foi possível constatar a atenção dirigida à mulheres mau-humoradas e mancas em cima de um salto-alto. Não sorria, não pense. Isso é feio. Tenha bons sapatos, uma chapinha mau feita, não importa se falta o seu dente da frente (acredite se quiser, esse ser existe). De capitalistas à comunistas, é tudo a mesma coisa,quem diria há pounco menos de um ano, que eu estaria tão feliz de ir pra aquele lugar de filosofia concentrada? Eu com certeza não, e puxaria a minha mão de volta de quem estivesse lendo o meu destino. A questão é que neste meio tempo surgiram seres sobrenaturais que, no mesmo universo pararelo, fazem tudo mais interessante. Esses não aqueles que discutem As Paixões da Alma no intervalo, nem os intelectuais que querem mudar a educação do país e não saber dizer boa noite e um ser humano.E sim aqueles que dançam marchinhas de carnaval quando a banda toca, enquanto os mau-humorados olham com cara feia e inveja, são seres indefiníveis com poderes de levitação, fazendo sustentável a leveza do ser. Tudo bem que esse amigos de encéfalo grande causam envelhecimento precoce, já que com os seus poderes mentais a gente cria rugas com o excessivo uso de covinhas, falta de ar, convulsões no diafragma, escaladas em árvore, perseguições em mesas, correria, fígados despedaçados. Que assim seja, estou apaixonada pela feiúra.