O natal, na prática

Na teoria, o natal tem tudo pra dar certo: comida, presentes e a família reunida. Mas a prática mais comum dessa data, é a tentativa de suprir vazios existenciais com o material. Gasta-se muito, come-se muito e no fim da noite, presente nenhum diminuiu os problemas de família. Em muitas casas é possível relevar antigas rixas, em nome da diversão, e o natal teve o poder de fazer um milagre. Em outros, a família se divide, e presente nenhum vai ser capaz de colar esse rasgo.

Talvez devêssemos esperar menos no natal, mas é difícil não achar que a felicidade vai ser automática e assim fica difícil não se decepcionar ao ver alguns rostos tristes. A comida então vem como um bênção, desobrigando alguns de conversar, talvez.

O natal deveria simbolizar o nascimento de sentimentos, de tentativas e esperanças, não de desistências, divisões. Mas o que resta do natal se uma família é dividida por brigas? Se nem no natal aqueles irmãos se abraçarem, que esperança resta pra nascer?

Felizmente, apesar de brigas serem comuns, os natais não 100% assim. Sempre existirão as crianças, os felizes por natureza, aqueles que conseguem aproveitar o lado e relevar o resto, e aquelas famílias que milagrosamente se dão bem inteiramente. Isso é um feliz natal.

O natal, pelo menos, deveria ser essa tentativa. Mas alguns continuam a acordar amargas, maldosas no dia seguinte. Sem a menor tentativa de dar bons abraços em qualquer um. Tem aqueles que insistem em ser o Grinch, aquele que roubou o natal. Pra que desperdiçar esse único dia do ano assim? Será que eles não percebem que muita gente não tem família, está longe da família e teve que trabalhar no natal? A meia-noite de ontem passou um caminhão de lixo. Não é todo mundo que tem natal. Mas ainda tem gente que tem coragem de estragar o natal dos outros.

Não dá pra pedir demais do natal, mas sempre existem muitas coisas boas sobre ele. Se apegue à elas, e quem sabe você terá pelo menos a lembrança de um feliz natal.

Feliz natal à todos, inclusive aos amargos, aos que não abraçaram quem deveriam, aos que acham que um feliz natal está no shopping.