A escolha de Sofia

Parecia um enigma de esfinge:"Você prefere ter razão ou ser feliz?" Foi a primeira vez que ouvi aquila pergunta e a achei um tanto maliciosa. Porque essa escolha entre ser uma coisa ou outra? A felicidade exclui a inteligência ou vice-e-versa? Só existem essas duas opções? Pensei mais uma vez e continuei sem entender. Porque quem pronuncia essa frase a usa exatamente para provar seu ponto e ter razão, e acaba por invalidar o argumento em primeiro lugar.
Desde pequena aprendi a argumentar. Com uma mãe advogada descobri cedo o peso e o sentido das palavras e nunca pensei em separar um coisa da outra: aquela mulher cheia de razão me parecia feliz. Só que as coisas não tão simples, e a resposta para esta questão pode variar muito: se em uma conversa eu argumentar que Hitler cometeu o Holocausto e a outra pessoa negar, eu vou ter razão, mas isso não me fará mais feliz. Por outro lado, vou ficar feliz de ter aberto os olhos do outro. Já se eu argumentar a um homem amado que ele me traiu, e ele provar o contrário vou ficar feliz em não ter razão.
Meu irmão acabou de ler Fahrenheit 451: o livro é passado prevê em que os livros foram proibidos e devem ser aniquilados, porque a reflexão provoca a insatisfação, a resolta e a infelicidade. As pessoas vivem desejando tevês cada vez maiores, que interajem como público. Dentre as distopias como Admirável Mundo Novo, esta obra de Ray Bradbury é considerada uma das que mais se aproximou com os dias de hoje.
As variáveis são muitas e me recuso a aceitar que o mundo se resuma a um maniqueísmo barato entre a razão e a felicidade. Não sei se isso é errado ou certo, mas sei que é mais difícil. É preciso escolher entre a razão e a felicidade? Isso sim me deixa infeliz.