sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O amor e a inconsequência

Cheguei tarde mais uma vez. E enquanto eu trancava a porta, pé-ante-pé, eu sentia o alívio de saber que agora meu pai dormiria bem, e a culpa de ter ter chegado aquela hora. Eu nunca volto tão tarde quanto eu gostaria, e nem tão tarde quanto ele gostaria.
Esse é o problema da consciência e do amor: a gente se preocupa em saber que o outro se preocupa, ou com qualquer outro grau de sofrimento.
Ao deitar na cama e sentir o peso dos lençóis, sinto vontade de acreditar no poder da prece, e rezar pela inconsequência, a possibilidade de agir além das leis da física, em que cada ação causa uma reação. Gostaria de ter a imaturidade de acreditar que ainda posso agir como uma criança, sem pesar meus atos, e que os pedidos de desculpa eliminariam qualquer dor no coração.
Mas o problema do amor é que ele não funciona assim: ele quer ser Deus, e proteger o outro até de um corte no dedo. E daí, a vontade de ser inconsequente não vale a pena. Será que algum Pai-Nosso iria me fazer pensar diferente? E se amar não faz parte do pensar, e sim do sentir, de que adiantaria deixá-lo acordado à noite? Talvez isso seja um problema. Ou uma solução. Ou amor. Puro e sem gelo.

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