sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vovô

Ao me ver ele abriu um sorriso e com os olhos fez como que fosse me contar várias novidades. Ao invés disso, ouvi: "Eu não quero morrer. Quando eu vejo você".
Aquelas palavras foram com certeza a maior declaração de amor que alguém já me fez e eu tive que engolir o choro de felicidade e tristeza que queriam ser liberados.
Tudo o que eu queria naquele momento era voltar ao passado e ser menina de novo.
Ter todas aquelas tardes em que o tempo ainda não obedecia o relógio.
Quando eu era menina meu melhor amigo era o meu avô. Lembro que gostávamos de passear de carro e ele levava à sério minhas sugestões de passeio.
Uma vez cismei que queria ir na casa do Charlie Brown. Mesmo sabendo que o desenho não existia na vida real, ele se deixou levar pelas minhas direções até chegarmos em uma casa com o grafiti do amigo do snoopy.
Tínhamos várias tardes de brincadeiras no quintal, doces não só pelas guloseimas feitas pela minha avó.
Sem falar nas histórias de animais na floresta que meu avô contava, imitando o barulho de um coelho comento cenoura.
Há quanto tempo não ouvia meu avô falar sem parar? De uns anos para cá ele falava de maneira tímida, com medo de errar as palavras.
Mas quem olha bem de perto entende todas as histórias do passado que ele conta para gente com apenas um olhar.
Naquela noite, tudo o que eu queria ao ouvir aquela frase era viver tudo isso de novo.
Queria me dar um soco por aquela fase da adolscência em que não queremos saber de nada além de nós mesmos.
Mas nada disso ia adiantar.
Vô, te amo. E também não quero que você morra pois, mesmo com pouca conversa, você continua sendo meu melhor amigo.

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