Da mesma espécie

Não me lembro exatamente como foi o nosso primeiro encontro, mas lembro que logo me encantei. A vida antes dele é uma lembrança vaga, que não importa. A casa era grande e eu me sentia segura em saber que ele dormia no quarto ao lado, apesar dele ser mais novo. Era reconfortante saber que ele existia, me trazia aquele doce risinho no canto da boca de poder brincar com ele.
É claro que a gente já brigou muito, mas em nenhum momento isso diminuía o amor. Mesmo porque, até certa idade a gente nem sabe o que é amor, só sabe que não consegue viver sem. Já levei soco com brinquedo, unhei, empurrei, fui empurrada, chamada de Marina-Urina. Mas desde que meu irmão chegou, tão pequenininho, descobri um amigo inseparável, e era mais, bem mais que um amigo: era alguém que nem eu. Sabe? Se eu fosse um jacaré, diria que ele era jacaré também. Assim, da mesma espécie. Às vezes, depois de uma briga, se a gente levava bronca dos nossos pais, a gente se unia e brigava com eles: era divertido.
Hoje vejo que as semelhanças não só genéticas, e cada vez mais temos gostos parecidos, rimos das mesmas coisas e lidamos de forma parecida com os problemas. Cada vez mais as lembranças ao lado dele vnao ficando cada vez melhores. E ele pode não ser de muitas e muitas palavras, mas ele sempre está por perto quando eu preciso, mesmo quando ele está longe. Mais do que ninguém nessa vida, mesmo, eu sei que ele me entende, é assustador o quanto. E eu entendo ele também. Somos da mesma espécie.
P.s: Logo depois que escrevi o post, o correio chegou, trazendo um postal de Milão, do meu irmão. Coincidência?