sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O problema do Lego trailer ou o impasse da liberdade de escolha


"Quero um Lego." Essa era resposta toda vez que meu pai viajava para longe quando eu era pequena. E ele viajava bastante. Até que um dia ele trouxe um trailer de Lego, e era o brinquedo mais legal do mundo. Me imaginava viajando por aí, dentro daquele motohome, que era conversível e era a casa ideal.
Não se se foi exatamente aí que veio essa vontade de enorme de largar tudo e viajar tudo, mas como o desejo é antigo, me parece que sim.
Só que ultimamente, tod vez que eu sinto quase uma necessidade de ir morar em Maputo, entro no impasse do dia-a-dia. Parece ridículo trocar a rotina pelas aventuras, né?
Pois pra mim a questão não é tão óbvia. Meu dia-a-dia não exatamente uma rotina. Cada dia, ou noite, é motivo para uma felicidade nova. Me faz feliz chegar em casa e jantar com a minha família sem falar de nada específico ou falar de questões que vão mudar as nossas vidas. Me faz feliz não chegar em casa e ir direto para uma pauta e entrevistar qualquer pessoa, ou ver qualquer coisa de diferente. Mas acima de tudo, eu tenho valorizado muito os amigos.
Essa noite, mesmo cansada, encontrei algumas amigas no restaurante de sempre: o papo oscilava entre crises, boboses, paixões e boboses. Tudo causava gargalhadas. Mesmo em momentos diferentes, com visões de mundo às vezes opostas, a gente se entendia e quase que dançava com a leveza do ar.
Já ouvi muita gente dizer que buscava a felicidade. Mas o quê é realmente a felicidade senão a sorte de poder viver momentos como esse? A felicidade não deveria ser algo distante e utópico, e sim algo real, dentro do possível, que nos faz sorrir sozinha, mesmo depois do momento ter passado. Felicidade é nos sentirmos completos com o que temos, sem mais nem menos, sem ter a ganância de desejarmos um amor, um lugar, um trabalho. Mas às vezes pessoas se atéem à imaginação, e ficam presas à imagem infatil que tem de imaginação.
É aí que entra a questão do dia-a-dia: Me libertei do meu mundo imaginário e me encontro em um momento de felicidade plena. Porém, uma parte de mim ainda deseja rodar o mundo. Cada vez mais quero conhecer Moçambique, Etiópia, Sudão e Nambíbia. Só que que pela primeira vez, dói de me imaginar deixando de ter essas pequenas e grandes risadas do dia-a-dia. É sofrido me imaginar longe dessa realidade que eu me apaixonei tanto.
Mais uma vez lembro do meu querido Lego. É difícil aceitar que não posso levar todos aqueles que amo dentro do meu trailer.
Ao som de Kings of Convenience - Singing Softly To Me:

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