quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Vovó Neném


-É o fim de um ciclo, disse Julia.
Naquele dia tão vazio, e cheio ao mesmo tempo, lembramos como ela costumava ler nosso futuro nas cartas de baralho, de como ela ria e ficava brava com as nossas manias de redecorar sua casa com glitter, do cheiro de molho de macarrão da casa dela, a Vovó Neném.
Demorei para aceitar que aquele corpo deitado na cama de forma tão calma, não ia acordar. Na verdade, duvidei o tempo inteiro e enquanto as pessoas conversavam, quase pedia silêncio, com medo que ela acordasse. Depois que resolvemos passar batom e blush, foi ainda mais difícil. Foi uma das nossas últimas travessuras, mas ficou bom.
A pior saudade é por aqueles que nunca mais poderemos ver, porque a pessoa deixou de existir. E não existe um número que eu possa discar e ouvir o "Alôooooo" da minha bisavó querida que, já surda, não ouvia o outro lado da linha e falava palavrões achando que era um trote.
Nos últimos tempos não fiz muitas visitas, porque doía vê-la velhinha, meio com as malas prontas para partir, dizendo que estava cansada. E agora eu sinto falta até da mera possibilidade de fazer essas visitas, sempre levando um chocolate.
Mas assim seguiu a roda da vida, que foi bem gentil na hora de levar minha avó, que ansiava pelo seu merecido descanso, longe de um corpo gasto que contradizia com o seu espírito.
- É o fim de um ciclo, eu concordei. Sentindo minha infância ficar um pouco mais longe.
Foto: Eu, minha mãe e a Vovó Neném. Natal de 2006.

2 comentários:

Vivian disse...

Oi, Marina!!

As aulas no mackenzie começam nessa semana, o que me deixa com saudades (eu acho) do tempo que passamos ali... Aí resolvi perseguir os amigos e colegas pelas rede! E caí nesse teu texto que também fala sobre saudade, mas de um tipo diferente... aquele que a gente não consegue mais chegar nas pessoas...

E você que falou da sua vó me fez lembrar do meu avô... engraçado, eu me lembro dele nas pequenas coisas do dia-a-dia. Por exemplo, quando eu vou tomar café, eu me lembro que ele enchia de açúcar a ponto de ficar melado... e eu sempre falava: "Creeeeedo, assim vcoê estraga o café". Nem preciso dizer que às vezes tomo café com quatro colheres de açúcar só para me lembrar de como ficava ruim quando ele me dava! hahaha

Meu comentário ficou gigaaaante! Enfim, virei aqui te visitar mais vezes, tá???

Beijo!
Vica.

Anônimo disse...

Que coisa... e eu enfrentando uma barra que você passou há pouco tempo. Fui lendo o texto e me identificando tanto...

E quando li o comentário da Vica, tive o mesmo sentimento dela. Meu avô não faleceu ainda, mas não sei quando vai acordar. E agora que não tenho mais essa presença é que fico relembrando de vários momentos gostosos que tive com ele.

=)